A paulistana Juliana Maia, finalista do Prêmio VEJA-se na categoria Inovação, enxergou na sustentabilidade ambiental um caminho para a vida profissional. Ao perceber as dificuldades dos grandes centros urbanos para descartar vidro laminado — que mistura plástico e vidraça e é comumente utilizado em para-brisas de carros e fachadas de edifícios —, Juliana desenvolveu uma máquina para facilitar a reciclagem.
Graduada em engenharia ambiental pela Faculdade Oswaldo Cruz, em São Paulo, ela iniciou a carreira na Essencis, maior empresa de coleta de resíduos industriais de São Paulo. Tinha a tarefa de encontrar um destino para os descartes mais nocivos da indústria, de químicos como mercúrio a lixo hospitalar. Na rotina do trabalho, observava os galpões de algumas companhias e notou que, mesmo na capital paulista, para-brisas e outros tipos de vidro laminado eram procurados por poucas empresas de reciclagem. “Uma luz se acendeu na minha cabeça quando um dos clientes me perguntou o que fazer para descartar aquele vidro”, relembra Juliana. “Nas semanas seguintes, pesquisei formas de reciclá-lo, mas as opções eram muito limitadas.”
Ela tinha uma ideia, o apoio da família e um capital inicial (de aproximadamente 120.000 reais) para levar adiante a missão. No princípio, visitou o Recife a fim de descobrir quais lojas de autopeças e construtoras estavam interessadas em fornecer o vidro e quais seriam os possíveis compradores para o reúso. Os maiores clientes em potencial eram as recém-instaladas empresas do Polo Vidreiro de Goiana, ao norte de Olinda. O setor havia investido 54 milhões de reais em infraestrutura e precisava do negócio de Juliana para complementar o ciclo de produção. “Todos ficaram empolgados quando apresentei a ideia, dos empresários ao setor público. Ali ganhei alguns padrinhos, que foram importantes para dar continuidade à empreitada.” Em 2014, Juliana já tinha interessados na coleta do vidro e clientes para comprar a matéria-prima reciclada. E tudo sem sinal de concorrência.
Hoje a empresa se soma ao esforço, ainda pequeno, para reverter uma fração dos 120 bilhões de reais que o Brasil perde anualmente por não reciclar seu lixo. O país gera quase 80 milhões de toneladas de rejeitos por ano e recicla apenas 3% do total. O negócio da Nova Brasil Ambiental ainda não é lucrativo, mas os números estão crescendo e a empresa já atingiu a produção de 230 toneladas de vidro moído por mês (a tonelada chega a ser vendida por 200 reais). Esse volume está abaixo do necessário para equilibrar as contas e, para completar o volume, a Nova Brasil Ambiental passou a recolher também vidros comuns.
A empreendedora estabeleceu uma cooperativa de catadores na região metropolitana do Recife. Com isso, cerca de quarenta pessoas conseguem gerar renda para sua família trabalhando com coleta seletiva, além de ajudar a diminuir o impacto causado pela falta de planejamento no retorno do lixo da região.
Créditos: Veja